Katie Melua

domingo, 16 de maio de 2010

... Balada...

Deixo-me ficar, presa a uma melodia que toca incessantemente dentro da minha cabeça, sempre a mesma canção sempre o mesmo final abrupto. Notas que tocam em dissonância, numa música que conheço de cor e que sei sempre como termina. Vivo o presente, sedenta de uma paz que já não encontro, num desassossego trôpego e sonolento, de coração fechado, adormecido, mas com uma sede demente de viver.

Procuro por ti em todos os lugares onde vou e finjo encontrar-te até onde não estás, numa ânsia infantil de ter o que perdi, como se fosse possível ter-te em todos os lugares, em todos os momentos e recuperar um tempo que passou. Tenho sede de viver, de saborear o presente, essa dádiva de vida, e abraçar os dias como quem não tem mais dias para viver e nada mais pelo o que esperar.

Apetece-me voar, pousar na tua janela, na esperança que ela se abra e me deixes, enfim, entrar, e quem sabe até ficar durante o tempo com que á vida deseje nos presentear. Não fujas deste momento, que nunca fugi de ti… solta essa melodia doce que nos embala e deixa-a tocar… deixa que as notas se alinhem e que o desafinar desatinado dos nossos dias possa finalmente ser a balada doce em que te canto.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Vida...

Parecia que me olhavas, que aquele olhar captado pela objectiva, a uns milhares de quilómetros de distância, era para mim. Estavas ali à minha frente numa imagem bidimensional, sem movimento, e eu podia facilmente imaginar-te aqui sentado do meu lado, com aquele mesmo livro na mão a olhares para mim e a falares-me, sem proferires palavra, naquele teu silêncio tão esclarecedor, tão cheio de promessas silenciosas, que não se precisam dizer. E pouco me importa que nunca se cumpram, senti a veracidade com que as desejastes, a vontade com que as sonhamos juntos enquanto separados.

Ali estavas tu à minha frente a olhares para mim, tinhas uma barba que me recordava uma outra noite, em que fomos à praia, num dos teus muitos e espaçados regressos. Depois veio-me à memória uma ida ao Porto uma paragem fugidia pelo caminho e um beijo, apenas e só um beijo. A memória abriu-se e recordei umas bancadas de um pequeno campo de terra batida e um beijo que se deu a medo, deixando, ao fim de tantos anos, na boca, o sabor a esperança, a esperança de que pudessem haver muitos mais depois daquele. E mais uma fuga, por medo ou cobardia, tiveste medo quando tinhas a vida toda e continuas com medo, agora que a vida toda pode ser apenas um único instante, um simples e solitário suspiro. Sempre o medo a toldar-nos a existência, a extinguir-nos as vontades e os quereres. E deixamo-nos morrer lentamente à porta dos sonhos, com medo de entrar e descobrir o que poderia ter sido se tivéssemos tido a coragem de arriscar e dar um passo no escuro, o derradeiro passo, que nos lançaria no abismo ou que nos faria voar. E quero acreditar que a esperança nunca morre, que a minha é do tamanho do mundo e suficiente para nós os dois.

Há dias em que a esperança jorra, transborda de mim e inunda o mundo à minha volta, mas também desespero, também duvido, mas jamais abandono aquilo em que acredito mesmo quando estou a duvidar. Sei que passa que a dúvida vai e vem como a ausência, que às vezes precisamos apenas de um sinal para continuar a acreditar. E sempre tive os sinais que me permitiram acreditar mais que duvidar.

Estás aqui, à minha frente, a olhar para mim nesta tua imagem bidimensional e parece que estás aqui que nunca daqui saíste, a dizer-me que posso ter o mundo se quiser, mas para que serve tê-lo se não o puder partilhar. Não percebes que é por ti que eu espero, na demora do tempo que teima em arrastar-se, em não passar. Passo a mão pelo teu rosto naquela fotografia e sou capaz de sentir-te a pele nos meus dedos e, basta fechar os olhos, para sentir o teu beijo, o teu cheiro e ouvir a tua voz doce suave, que me acalma numa paz que não sei explicar. E pergunto porque não te tenho aqui? Porque o medo, ou talvez não, nos impediu de fazer, num outro dia, uma escolha que poderia ter feito toda a diferença, ou talvez não. Hoje assola-me o que poderia ter sido se…

Hoje sou um poço fundo de esperança, sou capaz de dar o salto, de arriscar aquele passo no escuro e ver até onde posso chegar, quero ver o que está para lá deste muro invisível que não ousei transpor, por medo, sempre o medo de arriscar. Não quero ter arrependimentos, não adianta de nada fugir quando coisas há que nos perseguem, porque é em nós que existem independentemente de onde e com quem estejamos. Não estou sozinha nesta luta, eu sou capaz, ao ver-te olhar para mim eu sei que sou capaz. Tu fazes-me bem… e eu adivinho-te o sentir sem palavras, “grito os teus próprios gritos” e tu lês-me à distância de milhares de quilómetros… Parece que sabes quando ir e vir… ouves os meus pensamentos e vens sempre que preciso de ti… és uma lufada de vida na própria vida porque és a vida em si.